Fwd: Palácio do Planalto relembra visita de Dom Pedro II aos Estados Unidos

NOTÍCIA

Dom Pedro II foi o primeiro governante brasileiro a visitar os Estados Unidos, em 1876

Brasil e Estados Unidos

Em diário de viagem, que está sob guarda do Museu Imperial, o imperador registrou detalhes da viagem realizada em 1876. Na ocasião, imperador se encantou com a invenção de Graham Bell, o telefone
por Portal PlanaltoPublicado29/06/2015 10h51Última modificação29/06/2015 12h47
Reprodução / Museu da IndependênciaNa viagem aos Estados Unidos, Dom Pedro II se encantou com a nova invenção de Graham Bell: o telefone

Na viagem aos Estados Unidos, Dom Pedro II se encantou com a nova invenção de Graham Bell: o telefone

Na próxima segunda-feira (29), a presidenta Dilma Rousseff iniciará uma visita aos Estados Unidos da América para se encontrar com o presidente Barack Obama. Em 1876, o imperador Dom Pedro II realizou a primeira visita de um governante brasileiro ao país, em uma viagem que durou quase três meses. 

O então monarca narrou com detalhes, em um diário de viagem (é possível conferir a íntegra no site do Museu Imperial), todos os lugares por onde passou. Dom Pedro II registrou seus encontros com amigos, bem como suas visitas a escolas, bibliotecas, museus e instituições públicas. Este conjunto de documentos foi inscrito no Registro Internacional do Programa Memória do Mundo da UNESCO,  que é equivalente ao título de Patrimônio da Humanidade. 

De 15 de abril a 12 de julho de 1876, o imperador percorreu mais de 14 mil quilômetros e passou por 28 estados, além da capital Washington. No mapa disponível neste texto, é possível visualizar o trajeto percorrido por Dom Pedro II, durante a viagem. Trechos esses percorridos por trem e barcos.

Uma questão de especial satisfação para D. Pedro II durante a viagem foi o encontro com intelectuais, com os quais ele correspondia ou cuja obra conhecia. "Pelos registros feitos pelo imperador durante a viagem, podemos localizar um interesse particular dele pela ciência, pela tecnologia, as invenções e as novidades que o país estava produzindo, a começar pelo trem", relata  Maurício Vicente Ferreira Jr, historiador e presidente do Museu Imperial. De fato, como mostra o mapa abaixo, Dom Pedro II percorreu as extensões continentais dos Estados Unidos de trem, de Nova York a São Francisco na ida e na volta.  "Ele foi de oeste a leste, e depois voltou do leste para oeste, buscando informações, e as inovações que estavam ali sendo apresentadas", completa.

De acordo com o historiador, a viagem foi motivada pelo convite do presidente americano Ullysses Grant ao imperador, para que ele participasse da cerimônia de inauguração da Exposição Universal de Filadélfia, que aconteceu entre 20 e 25 de junho de 1876, e comemorou os cem anos da Independência dos Estados Unidos. Dom Pedro II foi o único chefe de Estado presente no evento.



Confira a galeria de fotos das visitas dos presidentes de Brasil e Estados Unidos ao longo do tempo

Durante a exposição, ele conheceu a nova invenção de Alexander Graham Bell. "Em 25 de junho de 1876, ele se encontrou com Graham Bell, onde conheceu o telefone, e até cita que na hora não funcionou direito", afirma o historiador. O interesse do imperador pelo aparelho foi tanto que ele se tornou a primeira pessoa a comprar ações da "Bell Telephone Company", companhia de Bell e também um dos primeiros donos do equipamento no mundo. Um exemplar foi instalado no Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro (RJ). 

Diário de bordo
 
Mesmo há 139 anos, D. Pedro II demonstrou a mais que atual necessidade de compartilhar seu dia a dia em uma viagem. "Os diários do imperador mostram o interesse dele em conhecer o que os Estados Unidos estavam produzindo naquele momento. Existem muitas referências de visitas a escolas, procedimentos em sala de aula de professores com alunos, até o uso de uma máquina que ele considera algo muito sofisticado, útil. É uma busca por inovações, novidades que seriam aplicáveis no dia a dia do Brasil", afirma Maurício Ferreira Jr.

Segundo o pesquisador, ele montou um plano de viagem anotando exatamente o que ele queria ver, os dias, quando ia começar; o que explica a forma sistemática pela qual ele narra todos os pontos da viagem. Dom Pedro II visitou desde escolas até fábricas de torpedos, passando pelo Grand Canyon. "Ele nos mostra as inovações tecnológicas, as aplicações, os testes, a natureza, as pessoas. Essa viagem mostra a visão de um intelectual, de um cientista amador que quer conhecer essas novidades e pensando na aplicação dessas inovação para seu próprio País", relata.

Passagens da viagem, escritas pelo Imperador Dom Pedro II

25 de junho de 1876 - "O telefone de (     ) 014 não deu perfeito resultado, mas assim mesmo duas pessoas leram – uma quase nada – dois telegramas que mandei ao mesmo tempo – Verity one single. All the sciences conduct to varity – aplicando o ouvido a um dos tubos acústicos (...). Depois examinei com Sir W. Tompson o aparelho 015 elétrico automático e quadrupler, creio eu e finalmente a aplicação que Bell, o mesmo do Instituto dos Surdos-mudos de Boston, fez do princípio de Konig à transmissão dos sons pelo fio elétrico."

18 de junho de 1876 - " Museu de mineralogia e de geologia [da universidade de Yale] onde muito folguei de conhecer o professor de geologia Marsh que tanto estudou as Rocky-Mountais. Mostrou os ossos de Pterodactilo dentado e do elefante diferente de primígenos que aí achou. Trago os trabalhos que ele publicou a tal respeito. Na coleção mineralógica há uma amostra rara pela qualidade do mineral e perfeição e grandeza dos cristais de Franklinite. É dos Estados Unidos de onde vi também antimônio puro e mercúrio também puro."

15 de junho de 1876 -  "O New York Herald de hoje já publica o que fiz em Boston ontem e só foi sabido depois das 8h."

14 de junho de 1876 - "Depois do almoço fui ao Instituto das Surdos-Mudos da City (Municipalidade). O mais  interessante é o grande número dos que falam (processo Bell cujo filho é mestre no Instituto). Traços que imitam as formas dos lábios etc. e forma o sinal cujo som devem articular. Gostei muito deste Instituto."

27 de maio de 1876"As plantações agradaram-me, os engenhos há melhores no Brasil. Plantam a cana entre 2 regas de arado, que é puxado por cavalos. Dá em 8 a 9 meses; plantam as ressocas e ainda um ano os filhos destas e o ano seguinte esse terreno é plantado de favas corn-peas e milho que renova as qualidades do terreno que no seguinte ano leva cana. Também plantam o milho logo com a cana. As gavinhas das favas faz muito bom feno."

Fonte:
Portal Planalto, com informações do Museu Imperial, e da The Library of Congress




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Jornalista Comendador Mauro Demarchi
Twitter: @maurodemarchi @monarquiaja
Membro-Fundador da Academia de Letras do Brasil - Capital das Nascentes

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