Inteligência militar no Império Russo

Inteligência militar no Império Russo: antepassado de Lev Tolstoi foi primeiro agente secreto permanente russo

Depois da tomada em julho de 1696 pelo exército russo da fortaleza de Azov, a Rússia começou já em 1697 a lutar por uma saída para o mar Negro. Para atingir esse objetivo, Pedro o Grande decidiu instituir uma embaixada permanente em Istambul. O primeiro embaixador permanente russo no Império Otomano foi o conde Piotr Tolstoi (1645-1729).

Inteligência militar: "um bom agente vale por um exército"

Piotr Tolstoi, o fundador da famosa linhagem Tolstoi, era considerado um dos homens mais instruídos do seu tempo. Na Itália ele estudou Arte Naval. Nos dois anos dessa sua estadia ele aprendeu a língua italiana, estudou navegação e arquitetura naval, conheceu o modo de vida europeu e estabeleceu contatos com alguns estadistas europeus.

Inteligência militar no Império Russo: de Ivan, o Terrível, a Pedro, o Grande

Antes da sua partida para Istambul em 1702, Piotr Tolstoi recebeu as seguintes instruções secretas: "Junto da corte do Sultão desvendar e descrever o estado desse povo, quais são as personalidades governantes, bem como irão agir e com que país em assuntos militares e políticos ou quais seus preparativos secretos para a guerra, tanto no mar como em terra firme."

A presença de um embaixador russo no Império Otomano durante o período que durou a Grande Guerra do Norte (1700-1721), quando operações militares em duas frentes de combate poderiam ter consequências graves, teve uma grande importância para o governo russo. As atenções de Pedro o Grande estavam então fixas no Báltico, ele queria conservar a paz com a Turquia a qualquer preço. Em Istambul ele contava com o patriarca grego ortodoxo de Jerusalém Dositeu, o qual fornecia ao enviado russo à Sublime Porta informações muito valiosas sobre o estado político interno do império e sobre a comunidade ortodoxa armênia. Ele escrevia nas suas comunicações ao chanceler Golovkin: "Estas pessoas trabalham de maneira sincera e sem receios e em troca não me pedem qualquer paga."

Inteligência militar no Império Russo: um sérvio ao serviço da Rússia

Devido à política hostil à Rússia de uma série de países europeus, Piotr Tolstoi não podia perder de vista a atividade de seus embaixadores em Istambul. Com a ajuda da sua rede de agentes, o embaixador russo conseguiu conhecer em 1701 o conteúdo da correspondência de Charles de Ferriol, o embaixador francês em Istambul entre 1699 e 1711, em que o diplomata francês tentava convencer as autoridades turcas da necessidade de se iniciarem ações militares contra a Rússia. O embaixador russo reagiu imediatamente: tendo recorrido a ofertas de dinheiro e presentes, na reunião privada do Sultão venceu o partido da paz, que era habilmente apoiado por Tolstoi. A expedição contra a Rússia não foi organizada.

Contudo, no outono de 1710, Tolstoi obteve uma informação secreta sobre uma reunião a realizar do Grande Divã com o Sultão sobre a ruptura de relações com a Rússia. Enquanto aguardava a sua iminente detenção no Castelo das Sete Torres, onde os turcos encerravam habitualmente os embaixadores estrangeiros como sinal de declaração de guerra, ele conseguiu ludibriar a vigilância dos guardas turcos e enviar uma mensagem secreta ao tsar. Nessa mensagem Tolstoi fornece uma informação detalhada sobre o aparelho administrativo e de governo da Turquia. Ele escreve, nomeadamente, sobre os responsáveis pelas finanças:"Eles não têm propriedades, ou não querem trabalhar, mas sabem roubar e delapidar o tesouro do povo."

Tolstoi informa por diversas vezes sobre a situação difícil da população cristã, a qual além das perseguições religiosas e opressão das autoridades estava submetida a pesados tributos suplementares: "Os povos cristãos sofrem abusos e discriminação com grandes extorsões." Ele descreve como muitas regiões da Bósnia e da Sérvia foram arruinadas e abandonadas pela sua população que se viu reduzida à miséria.

Depois da assinatura da paz com a Turquia em 1714, Tolstoi regressa à Rússia e continua a trabalhar no Colégio dos Negócios Estrangeiros. Ele tinha a confiança especial do tsar, o qual referiu: "Cabeça, se não fosses tão sábia já te tinha mandado cortar há muito tempo." Tolstoi foi um dos fundadores dos serviços secretos de Pedro o Grande (o Preobrazhensky Prikaz e a Chancelaria Privada). Ele participou em negociações diplomáticas, em 1716-1717 acompanhou Pedro I, na qualidade de conselheiro, na sua viagem à Europa: a Amsterdã, Paris e Copenhague. Em 1717, por ordens de Pedro I, executou um esquema operacional para a retirada de Nápoles para a Rússia do príncipe Alexei, filho do tsar, que tinha optado pela via da alta traição. Pelos serviços prestados Piotr Tolstoi foi agraciado com uma propriedade e com a Ordem de Santo André. O processo do príncipe Alexei aproximou-o da imperatriz Catarina, de quem recebeu o título de conde no dia da sua coroação.

Durante o reinado de Catarina I (1725-1727), Tolstoi foi membro do Supremo Conselho Privado. Nas lutas pela sucessão, Tolstoi tomou o partido de Isabel e de Ana, filhas de Pedro o Grande, contra Pedro II. Tendo perdido na contenda, em 1727 o primeiro agente permanente da inteligência russa foi detido juntamente com seu filho e enviado para o Mosteiro Solovetsky, onde morreu em 1729.

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