Rainhas que não saíram de contos de fadas...



 A entrevista "Histórias de Rainhas que não saíram de Contos de Fadas" foi publicada em
31 de julho de 2012 por Eulália Moreno no site: Mundo Lusíadas e nos trás informações muito interessantes e pouco conhecidas sobre 4 Rainhas portuguesas.



Para Isabel Stilwell os contos de fada que povoaram a sua infância vivida numa numerosa família de ascendência inglesa nunca serviram de inspiração para os seus livros. “O foram felizes para sempre não acontece em nenhum dos meus quatro livros sobre Rainhas de Portugal. Escrevi sobre Filipa de Lencastre, Catarina de Bragança, Amélia de Orleans e Bragança e agora sobre D. Maria II, a única rainha europeia nascida fora da Europa. Todas elas mulheres de fé inabalável, empreendedoras e comprometidas com os seus deveres, irreverentes, perdidas de amores, mães dedicadas, envolvidas em  intrigas, aventuras,  infidelidades e tragédias. Jamais poderiam ser consideradas personagens à margem da história  já que também a escreveram”, afirma  a autora que recebeu o Mundo Lusíada para um café da manhã no Hotel Pestana na cidade de São Paulo.

Desde “Filipa de Lencastre- a Rainha que Mudou Portugal” publicado em 2007 que Isabel Stilwell é responsável pela venda de aproximadamente 55 mil exemplares de cada uma das suas obras, algumas delas já na sua 25ª Edição. Diretora do Destak, o primeiro jornal gratuito de Portugal com mais de 2 milhões de leitores diários, Isabel resolveu dedicar-se ao romance histórico depois de ter publicado alguns livros sobre temas variados. “Foi numa conversa com os meus editores que surgiu  a idéia de desenvolver esse tema, de Rainhas  de Portugal. Comecei por escolher aquelas ligadas a Inglaterra à conta das minhas origens. O último sobre D.Maria da Glória é o resultado do consenso de que fazia um grande sentido os brasileiros conhecerem a  sua história coincidentemente neste ano em que comemoramos o Ano de Portugal no Brasil, e a edição brasileira apenas sofreu algumas adaptações com relação a expressões idiomáticas, adaptações que levaram três meses para serem concluídas”, recorda.

Contando sempre nos seus livros com a participação de um revisor histórico, Isabel Stilwell procura sempre ser fidedigna aos documentos primários que lhe chegam às mãos durante as muitas pesquisas que realiza: “Mantenho o meu sentido jornalístico quando busco sempre a veracidade dos fatos. Em alguns momentos recorro ao que denomino o senso da plausibilidade quando muito do que já foi escrito não tem forma de ser comprovado documentalmente. Não me considero uma historiadora. O que escrevo são romances históricos fiéis a documentos”, reitera.

O primeiro foi sobre Filipa de Lencastre. Nascida na Inglaterra casada com D.João I, em 1387 aclamada nas ruas da cidade do Porto e ainda hoje considerada uma das mais importantes Rainhas de Portugal. Seguiu-se em 2008, “Catarina de Bragança- A Coragem de Uma Infanta Portuguesa que se tornou Rainha de Inglaterra”, que aos 23 anos deixou Vila Viçosa a caminho de Londres para casar-se com Charles, o príncipe encantado que ela amava ainda antes de conhecer. Por amá-lo tanto sofreu num país onde não conhecia a língua, os costumes e onde até a sua própria religião era condenada. Testemunhou as infidelidades do marido, o nascimento dos seus filhos bastardos e nunca cumpriu o objetivo que na época lhe era exigida como mulher e Rainha: o de ser mãe. O terceiro, “Dona Amélia- A Rainha Exilada que deixou o Coração em Portugal”, de 2010, relata a tragédia e o exílio de Amélia de Orleans e Bragança, a última Rainha de Portugal. O país admirou a beleza da jovem nascida na Inglaterra e encantou-se com o seu casamento na Igreja de São Domingos mas, aos poucos, o povo que a aclamou começou a criticá-la, o marido afastou-se e ela descobriu as suas traições e fraquezas. O colar que D.Carlos ofereceu com 671 pérolas representavam momentos felizes que tinham passado e ela, nos momentos de dor passava os dedos pelo colar para que aqueles momentos não fossem esquecidos. Durante 24 anos viveu num país que amou como seu e onde deixou enterrada uma filha prematura que morreu à nascença, o seu primogênito D. Luis Felipe, herdeiro do trono, e o marido D.Carlos ambos assassinados no Terreiro do Paço.

E, finalmente, o livro ora lançado entre nós que em Portugal recebeu o título de “D.Maria II – Tudo por um Reino”. Nascida no Brasil, no Paço de São Cristovão, cidade do Rio de Janeiro,  com a infância vivida entre o calor e os papagaios coloridos D.Maria da Glória filha de D.Pedro I do Brasil (D.Pedro IV de Portugal) e de D.Leopoldina, tornou-se Rainha de Portugal aos 7 anos. Em 1828 partiu rumo a Viena para ser educada na corte dos avós. Para trás deixou a mãe sepultada, os seus adorados irmãos e a marquesa de Aguiar, sua amiga e protetora. Traída pelo seu tio D. Miguel, que se declara rei de Portugal, e a quem estava prometida em casamento, D. Maria acaba por desembarcar em Londres onde conhece Vitória, a herdeira da coroa de Inglaterra a quem ficará para sempre ligada por uma estreita relação de amizade. Aos 15 anos, finda a guerra civil, D. Maria pisou pela primeira vez o solo de Portugal.  Seria uma boa rainha para aquela gente que a acolhia em festa e uma mulher feliz, mais feliz do que a sua mãe. Fracassada a sua união com o tio, agora exilado, casou-se com Augusto de Beauharnais que um ano depois morre de difteria. Maria era teimosa e nunca desistiu de buscar a felicidade e a encontra ao lado de D. Fernando de Saxo-Coburgo-Gotha, pai dos seus onze filhos, quatro deles mortos à nascença. E aos 35 anos ao dar a luz ao seu 11º filho, ela morre.

“D.Maria II nunca se desligou afetivamente dos seus irmãos que permaneceram no Brasil. Nos primeiros anos de casamento com D.Fernando viveram no Palácio das Necessidades, hoje sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa, depois no Palácio da Vila em Sintra até que ele começou a construir o Palácio da Pena. Saudosa do Brasil pediu ao seu irmão Pedro de Alcântara, D. Pedro II do Brasil, que lhe mandasse mudas de plantas brasileiras para comporem um dos jardins do Palácio e enfrentou na sua época problemas bem semelhantes ao que enfrentamos hoje. Depois das invasões napoleônicas, Portugal a precisar ser reconstruído ela teve de recorrer a empréstimos estrangeiros, teve problemas com a banca, mas os superou”, recorda Isabel.

No horizonte editorial próximo, nenhuma Rainha nos planos. “Neste momento dedico-me as minhas duas princesas, Maria do Carmo e Madalena, que em Agosto completam dois anos. Tenho algumas idéias, gostaria de voltar a pesquisar e escrever sobre Rainhas na Idade Média mas, por enquanto, pretendo continuar com as palestras que faço nas escolas e que tem despertado nos jovens o interesse pela História de Portugal por vezes tão maltratada”, conclui.

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